sábado, 23 de julho de 2011

Agora que vou viajar...

Consulto a pasta de correio electrónico onde fui juntando toda a correspondência relativa à preparação da viagem. Já algum tempo que deixei de usar as pastas do sistema operativo para guardar a informação relacionada com a colaboração com outras pessoas. A quase totalidade da informação que recebo chega através de correio electrónico. Inclusivamente, por vezes, vejo-me na necessidade de enviar mensagens a mim próprio para juntar numa pasta de correio electrónico onde se encontra informação relacionada. 

Ainda assim, esta solução não é completamente do meu agrado. Levo algum tempo a encontrar a informação. Em particular, no contexto desta viagem, sempre que acedo à pasta  tenho um período inicial em quem vou percorrendo a informação e, mentalmente, a vou agrupando de acordo com o meu interesse do momento, seja a reserva de hotéis ou a distribuição da informação de acordo com o calendário da viagem. Por outro lado, começo a ter várias versões da mesma informação é necessário perceber qual é a que me interessa neste caso, não necessariamente a mais recente.

Muita da informação sobre a viagem resulta da utilização de serviços externos, como sejam serviços de reserva de hotel, avião e automóvel. Estes serviços enviam-me mensagens com os vouchers. Ou seja, alguma da informação que possuo na minha pasta de correio electrónico é apenas uma duplicação, não actualizada, da informação real. Por exemplo, se desejar saber se a viagem de avião alterada devo procurar na minha pasta a referência para o sítio onde o serviço está disponibilizado.

Idealmente, gostaria de poder ter a integrada a informação sobre a viagem com as trocas de mensagens de correio electrónico que efectuei para a preparar. Infelizmente, agora tenho de decidir por duas opções, ou conservo a informação dentro das mensagens ou a desagrego das mensagens. Ambas as soluções não me agradam, embora tenha pendido mais para a primeira.

Há cerca de 2 anos a Google lançou uma ferramenta revolucionária chamada Google Wave. Esta ferramenta permite que várias pessoas colaborem através da troca de mensagens e que simultaneamente vão sintetizando e agregando a informação que vai sendo trocada nas mensagens. Era objectivo da Google alterar o paradigma de comunicação actual, baseada no correio electrónico, por um paradigma de maior partilha e construção colaborativa de conteúdos. Esta proposta acabou por não vingar e acabou por ser abandonada pela Google. 

O Google Wave tem as potencialidades desejadas. Contudo sinto a necessidade de poder ter entidades estruturadas. Tal como o correio electrónico, o Google Wave apenas considera conteúdos feitos de texto e blobs (imagens, videos, etc). Na preparação da viagem gostaria de poder criar um entidade reserva de hotel para cada reserva. Também gostaria de poder enviar um pedido de informação sobre um local que desejo visitar já com um formato pré-estabelecido, de forma a que a resposta criasse uma entidade informação de local que eu poderia depois complementar com a indicação do hotel onde iria ficar e a referência para as coordenadas no Google Maps. A utilização de entidades estruturadas, ligadas a um contexto de comunicação, permitiria usar ferramentas de pesquisa e a ligação a serviços externos. Por exemplo, a entidade reserva de avião, ligada ao serviço externo de reserva de voo, iria sendo actualizada com o estado do voo.

sábado, 9 de julho de 2011

Razão e Coração

Começam a ser publicadas comparações entre o Google+ e o Facebook, e o como o Google+ poderá contrariar o crescimento do Facebook. Nas razões para usar o Google+ é dado ênfase à facilidade de utilização e a uma melhor gestão da privacidade da informação.

O Facebook, que nasceu como uma aplicação para conhecer miúdas, atinge agora os 750.000.000 de utilizadores. De algum modo, ainda não perdeu essas feições do coração.

Qual é a estratégia da Google para construir a sua rede social e substituir a do Facebook?

Duas estratégias são possíveis: tomar de assalto a rede Facebook, fazendo que as pessoas a abandonem e passarem a usar a rede Google+, ou criar um novo tipo de rede, que inicialmente atraia pessoas que não são utilizadoras usuais do Facebook, e que incrementalmente vá conquistando utilizadores ao Facebook.

A primeira estratégia, ilustrada neste cartoon, é equivalente a convencer 750 milhões de clientes de uma discoteca famosa e se mudarem em bloco para a discoteca ao lado. Dado que a discoteca está vazia, pode-se sugerir que lá se defende mais a privacidade das pessoas, mas é um argumento fraco, até porque vão todas à mesma discoteca para se poderem ver e comentar.

A segunda estratégia estará mais em sintonia com a forma como se cria inovação, segundo The Innovator's Dilemma. Por exemplo, a maior garantia de privacidade deverá permitir o surgimento de uma comunidade que não se reveja na rede Facebook. Esta comunidade ganhará identidade autónoma e tornat-se-à atraente aos olhos dos utilizadores Facebook que paulatinamente mudarão de comunidade.

O Google, dada a sua dimensão e capacidade tecnológica, parece estar a tentar a primeira estratégia, usar a força da razão para tomar de assalto a comunidade Facebook. No entanto, pode acontecer que algum embrião de comunidade se sinta atraído pelas possibilidades das novas funcionalidades do Google+, e as coisas aconteçam de outra forma.

sábado, 2 de julho de 2011

No man is an island

Investigação realizada com as moscas da fruta parece indicar que uma mosca que perdeu diversas disputas tem tendência a perder as disputas seguintes, ainda que com oponentes mais fracos. 

A Google acabou de lançar o Google+, uma tecnologia de suporte a redes sociais, para competir com o Facebook.

Segundo algumas opiniões o que está em disputa é a identidade.

Durante algum tempo olhou-se para a identidade digital na perspectiva da identificação. Como identificar de forma única os utilizadores da web? Como simplificar o processo de autenticação, fazendo que apenas seja necessária uma senha de entrada, para aceder a um vasto conjunto de serviços electrónicos? Um exemplo é o Windows Life ID.

A identificação digital única tem algumas vantagens. Mormente ao utilizador final, que não tem que gerir diversas identificações e senhas de entrada, mas também às empresas que concorrem para gerir as identificações, através de um complexo processo de fidelização de clientes e, consequentemente, de fornecedores de serviços, como a VISA ou a MasterCard.

Mas o modelo de negócio da Google foi alargar a identidade para além da identificação. O modelo de informação que a Google possui para cada utilizador da web é uma identidade gerada com as acções que cada um efectua quando usa o seu software. Esta identidade permite uma maior eficácia e precisão na identificação de quais os produtos que nos interessam. É essa eficácia que a Google vende às empresas que a contratam para difundir publicidade.

Também para o Facebook a identidade é feita da informação que possui acerca de cada um de nós, mas, contrariamente à Google, essa informação é explicitamente agregada pelos utilizadores. Quando se decide que fotografias se coloca no mural e que amigos se aceita estamos a definir explicitamente a nossa identidade.

Daqui resultaram dois modelos muito diferentes. No primeiro caso deixamos que a Google nos indique que informação nos interessa, no segundo caso "perguntamos" aos nossos amigos.

De forma um pouco inesperada, como referi em A Face de todas as Faces, actualmente as páginas web são mais acedidas a partir de páginas do Facebook do que de pesquisas no motor do Google. E isso, naturalmente, preocupa a Google. Daí a necessidade de passar de um modelo de identidade gerada para um modelo, ala Facebook, em que o utilizador constrói a sua identidade. Ou seja, a estratégia de oferecer um conjunto aparentemente "desgarrado" de aplicações, aparentemente, pois a informação sobre o seu uso é constantemente agregada em segundo plano para gerar a identidade, não funciona dado que não permite ao utilizador agregar a sua informação.

O Google+ integra numa interface única a possibilidade de agregarmos a nossa informação, construirmos a nossa identidade. Está anunciado como um processo em que incrementalmente novas aplicações Google serão integradas nesta interface única. A Google dá a informação que possui acerca de nós para dizermos quem somos.